O centro de computadores está cheio. Responde-se às mensagens que estavam atrasadas, enviam-se mensagens por SMS ou correio electrónico aos negociadores que acreditamos têm influência no processo, vê alguns negociadores e perguntamos as novidades, por vezes o programa de correio electrónico alerta-nos para uma última mensagem com detalhes da proposta que os Primeiros-Ministros ou Presidentes estão a analisar. E cada decisão é um processo demorado… Na União Europeia, como noutros grupos, é preciso convocar os colegas para uma reunião, para ver o que é ou não aceitável no texto (suposta declaração ou acordo – mesmo que a realidade nos cheire que esteja bem longe disso), para descobrir uma forma de desembrulhar uma embrulhada (o pleonasmo é propositado) com dois anos e muitas semanas de revitalização da economia local de sítios como Bona, Banguecoque e Barcelona e agora Copenhaga.
O homem das maçãs, que agora também comercializa também bananas (com maior sucesso, diga-se), passeia a sua bicicleta por entre a multidão que passa nos corredores também percorridos por um ou outro ministro.
E é assim, a correr contra a desilusão que já parece anunciada, porque mesmo que surja a qualquer momento (e a perspectiva é que o trabalho se estenda para sábado) a suposta declaração, se não mudar muito, é um mau momento para o clima: metas e redução para os países desenvolvidos que não asseguram um aumento inferior a 2 ºC, um texto que não é vinculativo e que não se prevê facilmente que venha a ser, o remeter para mais negociações que podem nem finalizar em 2010, quando o Protocolo de Quioto termina em 2012 e o clima exige acção.
Pela manhã, o discurso de Lula da Silva foi inspirador, incisivo e uma verdadeira lição para os países desenvolvidos ao oferecer uma redução unilateral das suas emissões poluentes e a colaborar com financiamento aos países menos desenvolvidos. Um contraste com os discursos mornos.
O frio de lá de fora é bem real cá dentro… mas quem espera, talvez sempre alcance… e Lula da Silva falava na esperança de um milagre… e realmente há um novo texto cujo conteúdo vamos agora tentar perceber. No Plenário, alguns assuntos mais burocráticos estão entretanto a ser adiantados.
Francisco Ferreira, em Copenhaga