À porta do Bella Center, onde decorre a Cimeira de Copenhaga, aparentemente dissonante com o que se passa dentro, uma manifestação por Aminetu Haidar, a pacifista saraui em greve de fome nas Canárias. Um observador menos atento diria não haver nada em comum, dada a natureza das duas questões. Mas há: as Nações Unidas.
No caso da COP15, a organização internacional, que convocou a reunião, parece incapaz, apesar dos apelos do secretário-geral, Ban Ki-moon, em corresponder às expectativas dos ambientalistas. No outro, chamada pela Espanha a assumir as suas responsabilidades e a fazer valer o direito internacional, não anunciou até ao momento qualquer solução.
Em Copenhaga, a esperança de um acordo que evite a desgraça maior definha à medida que se aproxima o fim da reunião. Em Lanzarote, Aminetu emagrece de dia para dia à espera de voltar a casa.
Talvez num futuro que se pretende mais próximo que distante as Nações Unidas venham a ter um punho que se sinta, ou pelo menos uma voz que se ouça no cumprimento das leis internacionais ou a favor de um mundo ameaçado. Mas, para já, não é o que se passa, em nenhum dos casos.
Procuram-se soluções para o impasse negocial em que está a cimeira de Copenhaga, no final do ano. Procuram-se ideias para desanuviar a tensão e aliviar as emissões de gases de efeito de estufa, foi por isso que este "bando dos quatro" esteve hoje em Nova Iorque.
O presidente dos Estados Unidos da América, o presidente da República Popular da China, o primeiro-ministro do Japão e o presidente em exercicio da União Europeia (primeiro-ministro sueco) foram 4 dos 100 líderes mundiais que responderam à chamada do secretário-geral das Nações Unidas para uma cimeira sobre alterações climáticas, realizda na sede da ONU. Estes 4 representam 62% das emissões de CO2.
No discurso mais esperado, o presidente americano, Barack Obama, cujo país é um dos maiores poluidores do planeta, declarou-se determinado a agir contra o aquecimento global, mas reconheceu que "o mais duro" ainda deve ser feito até a Conferência de Copenhague em dezembro.
"A ameaça imposta pela mudança climática é grave, é urgente e está aumentando", afirmou Obama, para quem as gerações futuras caminharão para uma "catástrofe irreversível", se a comunidade internacional não agir "audaciosa, rápida e conjuntamente".
"Compreendemos a gravidade da ameaça climática. Estamos determinados a agir. E nós honraremos nossas responsabilidades aos olhos das gerações futuras", prometeu.
No seu discurso na cimeira, o presidente chinês, Hu Jintao, apresentou um plano para conter as emissões chinesas de CO2, mas sem valores específicos.
Hu disse que a China fará fortes investimentos em energias renováveis e nuclear, e prometeu que no futuro as emissões de gases do efeito estufa do país aumentarão num ritmo inferior ao crescimento econômico.
"Vamos nos empenhar para cortar as emissões de dióxido de carbono por unidade do PIB em uma margem notável até 2020, em relação ao nível de 2005", disse Hu, de acordo com a tradução inglesa do seu discurso.
Esta promessa chinesa, mesmo sem indicar uma limitação absoluta, pode fazer arrefecer as críticas de políticos norte-americanos que estão relutantes em aceitar um corte expressivo para as emissões dos EUA se não tiverem uma contrapartida de Pequim.
Activistas e analistas esperavam mais
"Foi um pouco frustrante que a China não tenha dado um número para a intensidade dos gases do efeito estufa. Eu esperava que isso viesse agora", disse Knut Alfsen, director de pesquisas do Centro para o Clima e a Pesquisa Energética Internacionais, de Oslo.
"Mas este é um progresso. Há cinco anos o clima era uma não-questão para a China. Agora eles deram uma volta completa e dizem: 'Vamos fazer algo agora'. Essa é uma grande guinada."
Assim pode ser que esta jornada sirva para acordar os politicos mundiais que ainda não viram o tempo escasseia para se chegar a um acordo em Copenhaga.